Com o passar dos anos, Belém do Pará passou por diversas transformações tanto no espaço físico, quanto no social, ocasionando alterações gradativas em sua paisagem, provocando a intensa verticalização que ocorreu nos últimos anos. Antigamente, a forte economia da borracha fortificou a cidade, tornando-a uma das mais importantes da região. Atualmente, a capital paraense continua o seu recurso de valorização do espaço, devido uma forte urbanização da cidade. A seguir, veremos algumas das principais mudanças e diferenças da Belém antiga para a Belém atual.

Antigamente, o dinheiro gerado pela comercialização da borracha fez com que Belém passasse por uma reestruturação urbana, principalmente após o ano de 1897, no início do governo de Antônio Lemos, que promoveu mudanças essenciais na cidade. As intervenções urbanas tinham Paris como modelo e, para atender essa necessidade, o poder municipal aumentou os impostos e entrou em acordo com o governo estadual nos planos de saneamento e embelezamento da cidade. Atualmente, as ruas da Cidade Velha continuam estreitas e com o mesmo estilo europeu, mas com a necessidade que tiveram de construir avenidas largas, o Boulevard da República foi construído próximo ao cais do porto, para facilitar a transação da borracha.

Atualmente é a atual Boulevard Castilhos França e, no lugar das praças, bosques e quiosques, encontramos prédios comerciais e particulares, lojas, shopping e bancos. Com o passar dos anos, foi visível a verticalização da cidade pouco a pouco e, hoje em dia, encontramos uma cidade mais moderna, com edificações de espaços públicos, abertura de avenidas, mudanças de função social de antigas edificações, demolições e consequentemente mais alinhada.


Antigamente, a mobilidade urbana também era diferente e mais simples. Em meados de 1898, os bondes já estavam presentes por aqui. Eles cortavam toda a cidade e as linhas circulavam nos bairros e em seus arredores. Havia uma divisão de acordo com a classe social do passageiro. Os de luxo eram chamados de balangandãs. Os bondes articulados (que eram dois em um) levavam um número maior de passageiros. Para evitar problemas maiores do que os que já existiam com o troco das passagens, uma espécie de vale transporte foi criado, que podia ser comprado com antecedência e entregue ao motorista. O vale passou a ser chamado de “boró”, que mais tarde, virou uma gíria para quem possui uma grande quantidade de dinheiro trocado. As viagens de trem também eram muito famosas e a Estrada de Ferro de Bragança ligava a estação de São Brás, em Belém, à cidade de Bragança. A ferrovia começou a ser construída em 1883 e em 1884 foi inaugurado o seu primeiro trecho, de 29 km, entre São Brás e Benevides. Com o passar do tempo, novos quilômetros foram construídos, até chegar à sua extensão máxima: Bragança. Onde funciona o atual terminal rodoviário de Belém, em São Brás, ficava a antiga estação ferroviária. A estrada de ferro passava pela atual Almirante Barroso. Ao longo da estrada, alguns prédios foram construídos, como o Instituto Lauro Sodré, que atualmente é a sede do Tribunal de Justiça do Estado do Pará.

O Círio, festa que hoje em dia reúne cerca de mais de 2 milhões de pessoas nas ruas da cidade, era bem diferente. Na década de 1940, a corda, um dos principais ícones da procissão, era separada: homens iam de um lado e mulheres de outro. As mulheres que iam na corda, costumavam usar vestidos, com os pés descalços. Os homens acompanhavam de calça comprida e camisa de botão. O arraial ocorria na praça em frente à Basílica de Nazaré e ainda havia o Carro dos Foguetes, que seguia no meio da procissão. Em 1949 ainda não existia a Guarda de Nazaré, fazendo com que as pessoas conseguissem chegar mais perto da imagem. A quantidade de devotos foi aumentando com o passar do tempo, mas o número de romeiros já impressionava para os padrões da época. A estimativa é que 200 mil pessoas já participavam do Círio.

Não podemos esquecer da forma que as pessoas se vestiam na Belle Époque. Era possível ver senhoras com seus longos vestidos, importados e caros passeando pelas ruas, com suas sombrinhas; os homens usavam paletó e gravata; os meninos usavam suspensórios e boinas. Os tempos mudaram e no lugar dos vestidos, vemos shorts e camisetas; as crianças usam bonés e, no lugar dos paletós e gravatas, os homens usam bermudas e camisetas. Também não podemos esquecer dos lindos casarões da Avenida Dom Romualdo de Seixas, que perdem espaço a cada dia para um arranha-céu, que ganha mais visibilidade. Os monumentos da cidade ainda existem, junto com os palácios e praças.

Os nomes de muitas ruas também mudaram com o tempo, como a Rua Siqueira Mendes, que antigamente era chamada de Rua do Norte; a atual 15 de novembro se chamava Rua da Imperatriz. Experimente perguntar para alguém onde ficava a Rua do Açougue ou Rua Boa Vista, que hoje em dia se chama Gaspar Viana; a famosa Manoel Barata já se chamou Rua São Vicente, em homenagem a um padre que dedicou a vida sacerdotal para ajudar aos mais necessitados. No centro comercial de Belém não foi diferente, algumas ruas muito conhecidas já tiveram nomes diferentes, como a antiga Estrada dos Mercadores, que virou a Rua Estrada da Cadeia, por ter abrigado o primeiro presídio da cidade, que posteriormente se tornou João Alfredo, em homenagem ao presidente da província do Pará no século XIX e, por fim, a antiga São Matheus, que se chama Padre Eutíquio. Mesmo com o passar do tempo, algumas ruas de Belém ainda são desconhecidas, mas continuam repletas de história em cada parte.

Ao longo dos 402 anos da bela Cidade das Mangueiras, podemos notar diversas transformações: nas ruas, em seus nomes, nos prédios, monumentos e pontos turísticos, mas em meio a tantas mudanças, Belém continua fresquinha, com sabor de açaí (ou manga), com cheiro de chuva no final da tarde e receptiva como uma velha amiga.

Fontes Bibliográficas: http://g1.globo.com/pa/para/belem-400-anos/noticia/2015/11/idosos-de-belem-relatam-mudancas-ocorridas-na-cidade-em-90-anos.html
http://www.chaourbano.com.br/visualizarArtigo.php?id=89
https://www.youtube.com/watch?v=hYPmLBBanGw