A utilização dessas plantas e animais revela a intimidade entre a população da região e a natureza. Como exemplo, temos o uso do lagarto tamaquaré, em chás ou em pó, que geralmente é procurado por mulheres que desejam “amansar” seus maridos, como brinca Dona Onete na música “Feitiço Caboclo”: “O resultado fica tudo dominado, ele fica abestado, abobalhado, bobão, pateta, patetão, pilotado, só faz o que você quer com o chá do Tamaquaré”.


“Isso mostra que as pessoas observam, conhecem essa biodiversidade e querem transferir para o lado humano aquela propriedade que o animal possui. Partindo do princípio de que o tamaquaré é manso, o companheiro também ficará manso como o lagarto”, explica Flávio Barros.

A pesquisa verificou que o universo religioso também está estreitamente ligado ao uso da biodiversidade. Segundo o pesquisador, as pessoas também se utilizam das propriedades naturais de forma mágico-religiosa. “Elas atribuem valores e conceitos que fogem da nossa capacidade de compreensão do que é natureza e do que é cultura”, acrescenta Flávio Barros.

Assim, o projeto também é desenvolvido com base em entrevistas e observações empreendidas em terreiros de candomblé. Com a autorização do sacerdote do terreiro, a equipe faz os registros da pesquisa. O perfil do público analisado é bastante diverso, são mulheres e homens de idades e orientações sexuais diferentes, bem como de padrões econômicos distintos.

“Temos feito entrevistas de cunho qualitativo e abertas para dar voz ao interlocutor, para que ele narre a sua história e a sua experiência, para que possamos capturar os elementos que consideramos cruciais no entendimento desse fenômeno”, explica o pesquisador. O projeto também utiliza a observação participante, para que os pesquisadores entrem em contato com a dinâmica dos grupos analisados.

(jornalbeiradorio.ufpa.br)