A 15 minutos de Belém do Pará está uma produção de chocolate e cacau amazônico 100% orgânico. Conheça Filha do Combu, de Dona Nena, nesta matéria do Terroir.

Graças ao sabor inigualável e à fábrica do Willy Wonka de 1991, sonho desde criança em visitar fazendas e produtoras de chocolate. A primeira vez foi em Garanhuns, na chocolateria Sete Colinas, quando entrei na sala de temperagem e fui impactada por aqueles aromas tão afetivos. A segunda foi em janeiro de 2017, quando visitei a propriedade de Dona Nena (ou Izete Costa) na Ilha do Combu, em Belém do Pará. Uma verdadeira Filha do Combu.

Foto: João Ramid/O Globo

O impacto, dessa vez, veio ao constatar a força de uma mulher em sua comunidade e os mais puros sabores do cacau, algo muito diferente do produto industrializado que estamos todos acostumados a saborear.

Em sua casa, Dona Nena e família já trabalhavam há anos com o cacau que crescia selvagem em terrenos alagadiços da Área de Proteção Ambiental da Ilha, às margens dos braços do Rio Guamá. Um chocolate de várzea e orgânico, como chamam os especialistas.

Até 2006, seu grupo apenas quebrava o cacau, coletava as sementes da fruta, fermentava por dois a três dias, depois deixava secando por até quatro dias para ensacar e vender a atravessadores, que levavam às fábricas de chocolate pelo mundo. “Na época não fazíamos ideia para onde ia. Hoje mandamos para São Paulo, no Empório Poitara; além de chefs como Alex Atala, Roberta Sudbrack e Thiago Castanho, aqui em Belém. Também mandamos para a Argentina e alguns franceses vêm buscar”, contou a agricultora.

Foi então que ela percebeu que poderia ganhar muito mais beneficiando o próprio produto. A receita era de família, de tempos idos: uma torra no fogão de casa, para então descascar as sementes e passá-las pelo pilão ou moedor, deixando um pó bem refinado. Depois, a massa é envolta na folha do próprio cacaueiro, sem adição de açúcar, leite, manteiga ou qualquer coisa industrializada. A “poqueca” até hoje vende bastante nas feiras de Belém (PA).

Certa feita uma das sobrinhas de Nena apresentou a massa ao chef Thiago Castanho, do Remanso do Bosque, que saiu levando essa iguaria para seus colegas por todo o mundo. A partir daí tudo mudou. Hoje são atualmente 14 hectares plantados na Ilha, produzindo duas safras ao ano e gerando 50 a 60 kg de massa de cacau por mês.

Depois disso, ela passou a vender um pó rústico desse cacau, os nibs, as amêndoas torradas puras ou caramelizadas, além de um brigadeiro em pote. De textura arenosa, o cacau do Combu é bastante frutado e intenso, muito diferente dos chocolates “70%” que a gente consome por aí.


Pó de cacau

Nibs de cacau

Amêndoas caramelizadas

Brigadeiro de cacau 100%, feito com leite condensado
Agora Dona Nena almeja finalizar a reforma de uma casa ao lado da sua, onde será feita a manipulação do cacau e que abrigará, ainda, a lojinha. Ela também planeja comprar a máquina para o refino, que possibilitará elaborar novos produtos com a marca Filha do Combu: barrinhas e bombons.

Como chegar à Filha do Combu


Antes de tudo, agende com Dona Nena pelo telefone (91) 99616-0648 ou pelo email combuorganico@gmail.com o tipo de passeio que você vai querer fazer. Sugiro telefone e com antecedência de pelo menos três dias, pois ela pode demorar a responder.

De manhã, incluindo um bom café, sai por R$ 65 por pessoa já com a travessia inclusa. Como eu e Fábio queríamos ir pela tarde e almoçar na Saldosa Maloca, só pagamos o transporte por fora.

Em Belém, dirija-se até a Praça Princesa Isabel e pegue uma embarcação, que sai frequentemente. Fique atento à cobrança de estacionamento, que fica em torno de R$ 10. A travessia dura, no máximo, 15 minutos e no caminho, dá para ver postos de combustível no meio do rio. O valor pago ao barqueiro foi de R$ 3.

Como descemos na Saldosa, onde você já prova os brigadeiros com nibs do Combu por R$ 6 a unidade, nosso contato foi feito através da equipe do restaurante com o Denilson – marido de Dona Nena. Em poucos minutos, ele foi nos buscar com seu popopó: um tipo de barquinho rápido e barulhento bastante utilizado na região. Acho que fechando o transporte com ele, deve ficar uns R$ 20 por pessoa de Belém à propriedade. Verifique.

Abaixo, veja um vídeo resumindo todo o passeio:

FONTE: meuterroir.com